Campus da UFC em Crateús: uma jornada de desafios até a consolidação
O Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Crateús, inaugurado em 2014, passou por diversas mudanças e desafios até a consolidação de sua infraestrutura acadêmica. Após iniciar atividades no Colégio Primeiro de Janeiro e enfrentar a pandemia de 2020 com cortes de gastos, o campus concentrou-se na estruturação de novos setores e fortalecimento de suas bases até 2024.
O Campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Crateús iniciou suas atividades no segundo semestre de 2014, operando provisoriamente nas instalações do Colégio Primeiro de Janeiro. Com o aumento no número de alunos, tornou-se inviável manter as aulas no colégio, o que levou à mudança para o atual espaço do campus em 2016. Inicialmente, apenas o bloco administrativo foi ocupado, pois o bloco acadêmico ainda estava em construção. A decisão de utilizar o bloco administrativo foi uma solução necessária para acomodar os novos estudantes, o que trouxe novos desafios, especialmente a necessidade de finalizar as obras do bloco didático.
Em 2018, o bloco didático passou a ser utilizado, sendo oficialmente inaugurado em 2019. Esse período marcou um importante avanço na infraestrutura do campus, permitindo uma melhor acomodação das atividades acadêmicas e administrativas.
A pandemia de 2020 obrigou a universidade a adaptar suas atividades para o formato remoto. Paralelamente, o campus enfrentou cortes de gastos que impactaram suas operações. Entre 2020 e 2024, apesar da falta de novos investimentos governamentais, o campus focou na consolidação de suas atividades e na estruturação de novos setores, fortalecendo suas bases e preparando-se para o futuro.
Para trazer mais informações sobre o período de consolidação, traremos abaixo dois relatos de pessoas que vivenciaram este período.
Relato de Lívio Antônio Melo Freire (Ex-Diretor)
Houve várias tentativas de encontrar local para receber provisoriamente o Campus, porque na época o campus estava com a estrutura até levantada, dava para nos receber, mas tinha alguns desafios relacionados à parte de água. Nessa época não tinha água lá ainda e na parte de eletricidade, a pavimentação também estava bem aquém do que a gente precisava, o prédio estava pronto mas a parte da pavimentação ainda estava toda por fazer.
Então a decisão de mudar parou muito aí, assim, nós temos um campus, está parcialmente ok, pode até nos receber pelo o que está construído, mas e aí? Como é que fica a questão da água, a questão de saneamento? A água também era um problema e a questão da luz. Mas aí acabou que houve uma ponderação e a gente começou, ”não, vamos para o nosso campus, vamos ocupar, enfrentar os desafios lá dentro”.
A Diretora inicialmente foi um pouco reticente, imagino que por prudência, acredito. Mas acabou que chegou o momento em que fomos, vamos ocupar o campus. Nosso campus foi implantado, ainda estava em um processo de interiorização, ainda tinha dinheiro para implantar, então na implantação havia dinheiro para construir o bloco didático, havia dinheiro na época para construir inclusive os laboratório da engenharia, só que houve na época uma problema que a construtora do bloco administrativo abandonou a obra, ela quebrou o contrato com a UFC e o fim do recurso para o bloco administrativo, acabou que virou o ano e se perdeu o recurso, o recurso para construir os blocos dos laboratórios acabou sendo destinado uma parte para terminar o bloco administrativo e perdeu a outra parte, então coincidiu justamente com o período de crise econômica que a dificuldade por recurso começou a ser bem evidente.
O bloco administrativo só foi efetivamente concluído, porque de repente a fonte secou total, não tinha mais dinheiro e na época, a reitoria que era do professor Henri e professor Custódio, na época ele era vice, a diretora conseguiu uma articulação e conseguiu uma parte de uma verba que estava destinado para outro campus, parte dessa verba foi destinada ao Campus de Crateús para que se fosse finalizado o bloco administrativo e a pavimentação. Com a conclusão da primeira parte do bloco administrativo, aí a gente conseguiu migrar as aulas para lá, que já foi uma grande vitória.
Sobre a Pandemia
No meu primeiro ano de gestão me deparo com uma pandemia, de início sem saber direito o que era uma pandemia, porque não tínhamos vivido uma pandemia no Brasil até então. Foi um período desafiador, eu me lembro na verdade que eu me dei conta da existência da pandemia quando eu fui convocado lá na reitoria para a gente fazer um plano de ação, de contingência, o que é que vamos fazer? As atividades vão ser suspensas. Foi aí que caiu a ficha que a gente estava entrando em uma pandemia.
Me dei conta da existência da pandemia a partir dessa reunião que quando a gente foi chamado para essa reunião, que o reitor falou: vai tudo para remoto, todas as aulas. Foi até um susto que todo mundo tomou nessa reunião, estava eu e os demais diretores dos campi do interior, que o reitor já colocou na mesa, todo mundo vai ter que dar aula remota. E aí todo mundo: como assim a gente vai dá aula remota, assim do nada? Aula remota não é só ligar a câmera e falar como se estivesse em uma aula presencial, exige todo um preparo pedagógico, exige uma necessidade de infraestrutura para atender todos alunos e a gente sabe que nosso corpo discente, é um corpo discente com alta vulnerabilidade socioeconômica. Como é que vai ficar os alunos que não tiverem internet, que não tiverem um dispositivo adequado para poder acessar essas aulas, como é que vai ficar?
No início, com muita resistência, pensamos que daria certo, todo mundo tem um celular com internet, e a realidade foi se mostrando aos poucos, começou a ter uma pressão externa muito forte, para que a própria universidade criasse políticas de inclusão, que a certa altura atingiram um bom público. Na época distribuíram chips, mas havia a reclamação de que alunos, que por exemplo, moravam na zona rural, tinha região que não tinha cobertura de rede móvel, não adiantava ter um chip. Houve distribuição de celulares, computadores, tablets.
Então a universidade começou a entender que realmente tinha que criar uma política para poder facilitar esse ensino remoto. E foi aí também, mais uma vez que o Campus de Crateús teve uma adesão muito forte. Os professores apesar de todas as dificuldades e as resistências iniciais, que foi muito bem acolhida, a gente enquanto gestão tentou receber muito bem essas questões dos professores, tentou fazer o trabalho de forma muito humanizada, entendendo a situação que cada um estava vivendo, tinha época em que professor estava com familiar doente, né. Era um momento muito delicado, tentamos criar um clima de não ter pressão, é tanto que quando teve esse clima inicial de pressão, nós fomos um dos campus que falou: nós não vamos começar do jeito que está. Foi na época que lá no CEPE decidimos que não iríamos iniciar imediatamente sem que tivesse uma estrutura mínima.
Quando houve uma estrutura mínima, foi aprovado o calendário, os professores se uniram e trabalharam de forma muito dedicada, se você for ver, tem vídeo aula de professor de Crateús que começou a alcançar outros públicos.
Eu vi professor comprando luminárias para gravar aulas da melhor forma possível. Então o pessoal realmente se colocou de forma muito assertiva, falo isso com alegria e tristeza também, porque a universidade acabou não dando esse apoio aos professores para que desempenhasse o seu papel naquele período, mas por outro lado os alunos, na medida do possível ou do impossível, foram contemplados da melhor forma possível. Mas foi um período dificílimo, desafiador, sob o ponto de vista meu, emocional, psicológico, várias pressões que passei nesse período para deixar as coisas funcionando como foram, mas sobrevivemos.
Relato do ex-aluno Francisco Mardônio
Meu nome é Mardônio Vieira, eu sou crateuense e fui da primeira turma do curso de Sistemas de Informação da UFC de Crateús. Participei das primeiras apresentações de TCC e da primeira colação de Grau do Campus.
O tempo passou muito rápido e o nosso Campus já completa seus primeiros 10 anos. Eu lembro muito bem quando eu fiz a minha matrícula na UFC. Ela ainda funcionava no Colégio de Primeiro Janeiro. No colégio nós tínhamos uma infraestrutura muito inferior quando comparada ao prédio que temos hoje.
Nem todas as salas de aula possuíam ar-condicionado. O laboratório de informática não era como o que temos hoje no Campus. Os espaços para estudar em grupo eram bem mais limitados. Mas essas limitações se tornam superficiais quando nós lembramos que fazíamos parte da UFC, uma universidade pública e de qualidade.
Em Crateús nós sempre tivemos servidores dedicados, verdadeiramente empenhados. Os professores que eu tive sempre demonstraram um profundo conhecimento em suas áreas e o restaurante universitário, que é uma peça fundamental para o Campus, já funcionava no colégio.
Algum tempo passou até que o Bloco Administrativo ficou pronto e finalmente nós inauguramos o nosso espaço. Passamos a ter mais conforto e um pouco mais de espaço para estudar em grupo. O campus estava crescendo, novas turmas iniciando, novos professores chegando, foi um tempo muito bom e de crescimento e amadurecimento.
Depois, mais um bloco foi finalizado. Então passamos a ter novos laboratórios, um auditório, uma biblioteca maior e muito mais espaço para os eventos da Universidade. Eu sou muito grato por ter estudado na universidade pública na minha cidade.
A UFC no interior tem dado oportunidade para muitas pessoas transformarem a sua realidade. Nós temos cursos importantes aqui que formam profissionais capacitados, valiosos para o mercado de trabalho.
Eu amo a UFC, ela me deu uma profissão, me deu amigos que eu quero levar para uma vida toda. E que muitos anos venham pela frente e que a UFC de Crateús continue trazendo transformação para o interior.