Caminhos da Educação: Os primeiros anos da UFC Crateús
Desde a sua fundação, determinada pela Resolução Nº 26/CONSUNI da Universidade Federal do Ceará, em 14 de dezembro de 2012, o Campus de Crateús tem sido um catalisador de mudanças e desenvolvimento para a região. O Campus surgiu no contexto da expansão e interiorização do ensino superior, um movimento que visava democratizar o acesso à educação em todo o país, especialmente em áreas antes carentes desse recurso.
A interiorização do ensino superior não apenas abriu mais oportunidades para os jovens do interior, mas também estimulou o crescimento econômico e social das regiões circundantes. O Campus de Crateús é um exemplo desse processo, oferecendo cursos voltados para as áreas de engenharia e Tecnologia da Informação, essenciais para o desenvolvimento regional e nacional.
As atividades acadêmicas do Campus começaram em 2014, com a oferta do curso de Ciência da Computação, seguido pelos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Ambiental e Sistemas de Informação no ano seguinte. Em 2016, o curso de Engenharia de Minas completou a lista de cursos inicialmente planejados para o Campus.
No entanto, o caminho até aqui não foi isento de desafios. O início das atividades, em 2014, ocorreu no Colégio Primeiro de Janeiro, enquanto as obras do Campus ainda estavam em andamento. A transição para as instalações próprias só ocorreu no segundo semestre de 2016, quando as obras estavam em fase de conclusão e as aulas aconteciam no que hoje é o bloco administrativo.
Para trazer mais informações sobre o período de implementação, quando o Campus funcionava no Colégio Primeiro de Janeiro, traremos abaixo quatro relatos de pessoas que presenciaram este período. A primeira Diretora do Campus, Professora Maria Elias Soares. A servidora Aline Pinho, Assistente em Administração, que está no Campus desde 2015. A professora Amanda Drielly, professora do curso de Ciência da Computação, que juntamente com o ex-diretor Lívio Freire, o professor Rafael Silva e o Professor Fábio Costa, foram os primeiros professores nomeados para o Campus. E também o relato da ex-aluna e atual servidora Heliana Rodrigues, que foi aluna da primeira turma do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária.
Relato da professora Maria Elias Soares (Ex-Diretora)
Eu estava atuando como vice-reitora da Unilab, quando o professor Jesualdo Farias, Reitor na época, me telefonou me convidando para implantar o campus da UFC em Crateús, naquele momento era 2012 o MEC atendeu a universidade para a criação de dois novos Campus, sendo eles, Russas e Crateús. O ato de criação dos campus é de 2012 com a definição dos cursos, não houve uma discussão prévia, pois naquele momento o governo federal estava muito interessado em reforçar a formação de engenheiros e profissionais de TI, visando o desenvolvimento do País, pois são áreas prioritárias. E havia a incumbência, portanto, de abrir um curso de engenharia civil, tanto em Crateús como em Russas, ciência da computação e depois foi definido também sistemas de informação e os outros cursos de engenharia. Então, em reunião com a reitoria, ficou definido que nós criaríamos no campus da UFC Crateús os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Ambiental, Engenharia de Minas, Ciência da Computação e Sistemas de Informação.
Em 2013, eu deixei a reitoria da Unilab e fui nomeada para dirigir o campus de Crateús, na verdade implantar. Foi um desafio que eu diria que talvez tenha sido até maior do que implantar a Unilab. Em 2013, começaram as negociações da licitação para construção do Campus. Ai ja foi novamente necessário tomar providências para concursos de servidores, então, nós lançamos o concurso para contratação de uma secretaria executiva, um bibliotecário, um administrador, um assistente administrativo e uma nutricionista.
Nós confiávamos que a construção do prédio entrasse em andamento ainda em 2013 e que nós tivéssemos as condições para ofertar cursos ainda em 2014, por isso a universidade dentre os cursos no SISU, já havia lançado a oferta do primeiro curso que foi ciência da computação. Aí chegamos em 2014, foram abertas as vagas no SISU, aí a gente se depara com uma situação muito preocupante, a obra ainda estava começando, nós não teríamos o prédio para abrigar o curso.
Como faríamos, vamos abrir vagas no primeiro semestre de 2014 ? Mas não tínhamos nada ainda, então, depois de muitas reuniões com a Pró-Reitoria de graduação, o Reitor e todo pessoal envolvido na implementação do campus foi decidido que essas vagas seriam abertas para o segundo semestre. Foi decidido, teremos alunos no segundo semestre. Houve até uma ideia de oferecer esse curso em Fortaleza, mas quando foram ver os alunos que seriam atendidos por esse curso, eram todos da região, como é que nós iríamos abrigar todos esses alunos em Fortaleza e também, será que eles iam querer ? Realmente foi uma situação muito difícil, então, vamos abrir o curso mesmo em Crateús.
2014 foi um ano bastante decisivo. A obra não andava, não tinha a menor possibilidade de ter a obra concluída em agosto de 2014, que era a data de início das aulas. E aí nós fizemos a um trabalho de procurar um lugar onde implantar inicialmente o campus de Crateús. Então, o prefeito nos conduziu a várias escolas municipais e estaduais, mas não havia condições nessas escolas, exigiria reformas e não daria tempo de realizar uma reforma. Então, nós andamos nessa cidade toda procurando um lugar para implantar o campus.
Um deputado que tinha sido funcionário do Banco do Brasil, lembrou que havia uma instalação no centro da cidade que não estava sendo utilizada pelo banco, então nós fomos ver, mas não tinha estrutura de sala de aula e espaço para secretaria. Sugeriram também que nós utilizássemos, uma instalação da secretaria de ciência e tecnologia, onde era oferecido cursos profissionalizante, só que já havia convênios estabelecidos com outras entidades e não tinha disponibilidade de espaço para nós implantarmos.
Foi um tempo nessa angústia de encontrar um espaço, lembraram também do antigo Colégio Manuel Mano, mas quando fomos procurar ele já estava cedido para uma ONG. Nós estávamos bastante desesperançados, então, a própria prefeitura lembrou de procurar colégios particulares que eventualmente pudessem alugar um espaço para universidade, inicialmente para prefeitura, a própria decidiu bancar os primeiros meses do aluguel.
Então nós procurarmos dois colégios que estavam ampliando suas instalações e que talvez pudessem nos receber, um era o colégio primeiro de janeiro que estava construindo um anexo de dois andares e o colégio onde hoje funciona a Faculdade Princesa do Oeste que também estava construindo um prédio até maior que o prédio no Primeiro de Janeiro. Só que a diretora disse que ainda não tinha condição naquele momento porque estava ainda em obras, não havia muita possibilidade.
Mas aí o colégio Primeiro de Janeiro concordou, embora ainda estivesse em obras, o prédio não estava concluído, nem a escada tinha corrimão ainda, ainda estavam finalizando a construção dessa ampliação. Mas aí nós fomos verificar o espaço, havia uma sala grande no térreo e já tinha até um laboratório de informática também no térreo que eles alugavam para cursos profissionalizantes. E havia duas salas no primeiro andar e duas salas no segundo andar, então realmente, para a primeira turma era suficiente. Então no primeiro andar nós colocamos a biblioteca, que nessa altura, graças ao trabalho do bibliotecário e da equipe de licitação da UFC, já tinham sido adquiridos livros, então, nós tínhamos biblioteca para começar as aulas. Também foi utilizado uma sala para instalação da secretaria e depois salas de aula.
Então a essa altura nós já tínhamos feito concurso para professores para as primeiras disciplinas do primeiro semestre do curso de Ciência da Computação. Nós tínhamos dois professores da área da ciência da computação, um professor de matemática porque era uma disciplina básica e um professor de ética que era uma disciplina que estava no primeiro semestre do curso. Então, esses professores já estavam contratados na data de início das aulas, que foi 4 de agosto de 2014. O campus foi criado por uma resolução de 2012, mas a instalação do campus com seu primeiro curso foi nessa data de 4 de agosto.
Então finalmente, nós viemos para Crateús para colocar em funcionamento o campus, mas não tinha nada fácil, encontramos esse prédio, mas não tínhamos mobiliários, não tínhamos estantes para biblioteca, não tínhamos computadores para ser utilizado nas aulas. Havia um laboratório mas era do colégio que tinha outro uso, não podia ficar completamente à disposição do campus e das aulas, sobretudo em um curso de ciência da computação que precisa de computadores.
Então, foi uma outra aventura que eu enfrentei junto com a universidade, procurei diretores de todos centros e institutos, faculdades de fortaleza, foi um movimento de solidariedade muito lindo, pois todo mundo que tinha alguma coisa, estante, birô, computador, cada um cedeu um pouco para o campus de crateús e nós realmente conseguimos montar o campus e colocar em funcionamento no dia 4.
Relato da servidora Aline Pinho
Na época do funcionamento da UFC em sua sede provisória, no Colégio Primeiro de Janeiro (CPJ), ainda havia muita falta de conhecimento da população sobre a real implantação da universidade na cidade. Até hoje pode-se dizer que muita gente ainda não sabe da existência da UFC, mas considero que houve avanços.
Apesar da limitação de espaço, pois tínhamos que dividir as instalações com o CPJ (Colégio Primeiro de Janeiro), conseguimos executar nossas atividades pois as turmas ainda eram pequenas. Timidamente o Campus ia ganhando forma, na época funcionava biblioteca, administração, secretaria acadêmica dos cursos, laboratório de informática e até o serviço do RU que também pode ser iniciado no colégio. As aulas ocorriam à tarde, a partir das 13h e estendiam-se até às 21h30, por vezes até 22h.
Em 2017, ocorreu a mudança para a sede definitiva da UFC, apenas para o bloco administrativo, já que a obra do bloco didático ainda estava em andamento. Recebemos mais servidores (professores e técnicos administrativos), e nos acomodamos melhor no novo espaço. O bloco funcionava tanto para a parte administrativa como para a parte didática (salas de aula). O horário de funcionamento passou a contemplar os três turnos (manhã, tarde e noite).
Novamente criou-se a expectativa de que a Universidade expandisse, o que de fato aconteceu, pois todos os anos ingressam muitos estudantes, porém temos a problemática da evasão crescente ao longo dos anos. Os que persistem e conseguem se formar, é bem gratificante acompanhar a jornada, pois desde o começo eu trabalho no setor acadêmico da universidade. Muitos alunos estabeleceram uma relação próxima a mim, e isso traz um sentimento de gratidão pelo trabalho que desempenho.
Me tornei chefe do meu setor em 2016, ainda na sede provisória, e com o passar dos anos pude perceber o quanto fui crescendo e amadurecendo enquanto parte da gestão do Campus. Posso dizer que desenvolvi novas habilidades de liderança, de desenvolvimento profissional, pois também me foram dadas novas tarefas e sinto que posso contribuir em mais áreas de funcionamento do Campus.
Hoje temos dois blocos bem consolidados, tanto o administrativo como o didático, mais setores foram criados, porém ainda precisamos e podemos crescer mais. Percebo que é bem difícil avançar de maneira rápida e contundente, pois somos dependentes de muitas decisões da gestão superior, que se encontra em Fortaleza e ainda sofremos com a falta de atenção para o interior. Por fim, acredito que nosso Campus tem muito potencial e pode se tornar um grande polo de ensino e pesquisa, desde que os investimentos continuem, e que tanto a carreira docente quanto a técnica seja devidamente reconhecida e valorizada.
Relato da ex-aluna e atual Servidora Heliana Rodrigues
Eu lembro desse período com bastante nostalgia e carinho, porque apesar de todas as dificuldades, devido o ambiente ser muito apertado precisávamos dividir as aulas com o curso de engenharia civil, fazíamos as disciplinas juntos. Nos tornamos muito próximos, nos corredores todo mundo se encontrava.
O pessoal da turma ficaram bastante amigos. A primeira turma de engenharia Ambiental e a primeira turma de Engenharia Civil, nós praticamente fizemos o curso juntos, criamos um elo forte por isso. Cada aluno ia se ajudando, apesar das limitações da estrutura. Também havia poucos professores no período, mas havia um senso de ajuda coletiva para fazer acontecer.
Apesar da convivência com os alunos do colégio pela parte da manhã e às vezes à tarde, onde tínhamos que dividir o mesmo espaço com eles. Fomos acumulando experiência, capacidades e habilidade, aprendemos a lidar com essas adversidades.
Eu me lembro com bastante carinho desse momento, uma nostalgia boa. Ainda com os desafios, o Campus na época do colégio primeiro de janeiro tornou-se um ótimo ambiente para o nosso aprendizado.
Relato Professora Amanda Drielly Venceslau
O processo de implantação do Campus se deu da seguinte forma. Quatro professores, inicialmente, foram nomeados. Entre eles, eu fui nomeada a única mulher do grupo.
Na parte da computação, seria eu, o professor Lívio, ligado à matemática e o Professor Rafael com as disciplinas relacionadas à administração. Então, nós nos vimos no Campus que funcionava no colégio Primeiro de Janeiro, uma escola infantil. Apesar do curso ser vespertino e noturno, nós não tivemos problemas, assim, pelo menos o curso de computação não teve problema com aulas sendo interrompidas.
Neste período nos faltava recurso. Não me recordo de ter dado nenhuma aula com recurso, qualquer tipo, como audiovisual, data show. Foi na raça mesmo, na caneta e trazendo materiais para os alunos. Foi uma adaptação, tudo foi se adaptando.
Eu e o professor Lívio decidimos sobre quem ficaria com a coordenação do curso de Ciência da Computação. Eu fiquei como vice-coordenadora.
Sobre os eventos do Campus, eles aconteciam no Auditório do CREA, que era gentilmente cedido para a UFC. A relação naquele período era muito próxima, acompanhamos de perto o trabalho da direção, a Professora Maria Elias (Ex-Diretora), que por ser da cidade conseguiu apoio para a solução de muitas problemáticas que surgiram no caminho.
Fiquem atentos ao nosso site e redes sociais, pois ao longo de 2024 iremos publicar mais notícias referentes a história do Campus. Inclusive com mais informações sobre a ida ao bloco definitivo, a conclusão das obras, os primeiros formandos e outros detalhes.